sábado, 20 de junho de 2009

E agora, o que vai ser dos jornalistas?

Fernanda Morgan
Liliane Schlemer

A decisão da não obrigatoriedade do Diploma para exercer a função de jornalista tomada esta semana pelo Supremo Tribunal Federal deixou a categoria bastante abalada. Esta é uma situação lamentável, pois aquelas pessoas que dedicam quatro anos ou mais de suas vidas há frequentar uma sala de aula, muitas vezes com muitas dificuldades, tanto pela distância que tem que percorrer todos os dias quanto por dificuldades financeiras, pois as mensalidades chegam ao valor do piso salarial que os jornalistas vão receber depois de formados.

Durante a faculdade, os alunos têm experiências em todos os tipos de mídia, além de ver também durante o curso a ética da profissão. O Diploma pode não ser mais obrigatório, mas o conhecimento adquirido por quem frequentou um curso de jornalismo vai prevalecer sobre aqueles que se sentem no direito de exercer a profissão apenas por ter experiência e tempo de serviço.

É claro, aquelas pessoas que trabalham fazendo jornalismo há muito tempo, podem ser bons profissionais, mas o ideal é que busquem qualificação, para estar no mercado de trabalho concorrendo com profissionais diplomados, e não tirando o espaço de quem se dispôs a enfrentar os sacrifícios de uma graduação. Segundo Sônia Bertol, doutora em Comunicação e coordenadora do curso de Jornalismo da Faculdade de Artes e Comunicação da Universidade de Passo Fundo (UPF), quem pensa que porque na Europa e nos Estados Unidos o diploma não é obrigatório, aqui no Brasil também não precisa ser, está extremamente equivocado. Ela diz que é exatamente o contrário que deve acontecer aqui, que estávamos em vantagem, e com esta decisão perdemos vantagem, mas segundo dados, mesmo lá onde o diploma não é necessário as empresas de comunicação procuram por profissionais formados. Ela nos diz também que nada vai mudar para quem realmente tem vocação para a profissão do jornalismo, que o melhor é a especialização, porque já que o diploma não ampara mais a categoria, pelo menos o conhecimento e a cultura vão amparar.

Segundo o doutor e professor Otávio José Klein da UPF, a ética não muda com a decisão do STF, pois esta também possui fundamentos objetivos que são, portanto, o ser humano o seu respeito e sua integridade. Além disso, este fundamento depende também da consciência de cada um. Para Otávio, não é o diploma que garante a ética de um profissional do jornalismo, mas sim a formação qualificada de nível superior que serve para o exercício da profissão. Isso inclui também a formação ética, que oferece maiores possibilidades de um agir ético no exercício da profissão jornalística. Porém, a ética se aprende desde a tenra idade e a formação universitária pode contribuir para dar razão para o agir ético na profissão, mas não resolve desvios éticos na formação do caráter das pessoas.

Para ele, a principal preocupação reside em torno daqueles que ganharam com a derrubada da exigência do diploma de nível superior para o exercício da profissão de jornalismo, porque o fizeram pensando em ganhar mais dinheiro nos seus negócios midiáticos. Essa é a lógica da sociedade do capital, ou seja, desregulamentar e flexibilizar os direitos de uns para o privilégio de outros.

Com isso pode-se perceber que o futuro dos jornalistas ainda não está definitivamente “acabado”, ou seja, é provável que muitas mudanças vão acontecer com a queda do diploma, mas se acredita que os bons chefes de redação e representantes dos veículos de comunicação tenham consciência no momento em que forem contratar algum profissional, realizando-se assim uma contratação descente e de profissionais devidamente formados e qualificados.

Leia mais sobre a não obrigatoriedade do diploma de jornalista.
http://www.fenaj.org.br/
http://www.abert.org.br/novosite/?CFID=3659221&CFTOKEN=81009108
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/

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