sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A essência jovem dos festivais de música

Grandes Festivais simbolizam um momento vivido pela sociedade e são impulsionados pela inquietude jovem de mudança

 Dulci Sachetti*

Milhares de pessoas se movimentam, se organizam e migram para cidades, estados, até outros países temporariamente, para acompanhar de perto não só shows e artistas, mas também uma variedade de cultura e de gente, que muitas vezes marca época. Os grandes festivais tem apelo jovem e simbolizam a realidade que estão inseridos, são flexíveis assim como o perfil das tribos e vão de encontro das crenças e atitudes típicas da geração.

Grandes festivais e eventos envolvendo a música e outras ideologias acontecem comumente em torno do globo e há grande procura pelos públicos, já que eventos maiores têm mais variedades de atrações, custo reduzido ou zero e facilidades de acesso, seja de deslocamento ou de informações referentes. Quem participa, geralmente tem de ter disponibilidade para viagem, disposição para ficar em filas imensas e acompanhar a maratona diária de horas em pé, dificuldades para alimentar-se adequadamente e acomodar-se no improviso. Não é por acaso a relação com o público mais jovem, portanto, desde as condições em que acontecem os eventos, as atrações e a disponibilidade já segmentam, ou pela idade ou pelo espírito; a essência símbolo do evento igualmente motiva as pessoas a comparecerem. Mas este conceito de “jovem” também passa pela transformação da realidade contemporânea. O antropólogo italiano Massimo Canevacci garante que a juventude está estendida e que é muito difícil determinar faixa etária ou eloquência pela idade de fato. Assim, o gosto, espírito de liberdade e vontade de mudança está muito mais relacionado ao estado de espírito do que pela quantidade de aniversários.

A variedade musical dos grandes festivais atrai várias tribos com gostos variados, mas com especificidades em comum. Estas especificidades traduzem o simbolismo das gerações de jovens, suas crenças e atitudes de inconformismo diante de uma realidade que consideram impraticável. A ideia das Tribos Urbanas surgiu em 1980 com o sociólogo francês Michel Maffesoli, que aponta o fato das escolhas, modo de se vestir e música que ouvem como a caracterização das tribos, fundamentadas em uma ideologia. Embora toda a pluralidade e flexibilidade dos jovens diante das tribos – ora se faz parte de uma, ora se está em outra, como afirma Canevacci – existem características em comum da geração, como por exemplo, ir nos finais de semana à praças e parques, em lojas de conveniência para beber ou sair sexta à noite e participar de eventos musicas que efetivem a ideologia acreditada pelas tribos, parcialmente definida por um estilo musical. Esta mesma variedade de estilos musicais está presente nos festivais, que reunem público e estilos plurais, validando os eventos.
Paralelo à música geralmente está a essência e apelo dos grandes festivais. Eventos exclusivos de rock para comemorar o Dia Mundial do Rock, shows atrelados à Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, o Brazilian Day realizado no exterior, todos aliando a música a uma identidade constituída e com reflexões que vão desde a comemoração de uma data histórica, preconceito e questões sociais, até eventos com fundamenteção  religiosa e cultural.
 
WOODSTOCK - A era Hippie e a contracultura

Festival Woodstock em 1969. Foto: blogamos.com
A motivação que leva milhares de jovens à festivais de música além da identificação com o estilo das tribos através da música, também está  diretamente relacionada à essência instituída. O Woodstock, primeiro festival de grande proporção que se tem notícia, aconteceu entre os dias 15 e 17 de agosto de 1969, em uma fazenda na cidade rural de Bethel, no estado de Nova York, Estados Unidos. Reuniu aproximadamente meio milhão de pessoas e tinha como slogan “Uma Exposição Aquariana: Três Dias de Paz, Amor e Música" trazendo o intuito de “Paz e Amor”, “ Violência não”, repúdio à Guerra do Vietnã e apelo aos direitos civis. Todas as manifestações geradas não só pelo Woodstock, mas também as atreladas à cultura hippie, definiram o cenário do século XXI, onde muitas características foram instituídas continuando, obviamente, por um processo de transição e transformação constante de valores, crenças e ideologias; determinando portanto as gerações conforme o perfil libertário jovem que prega a quebra de paradigmas. Este fato também caracteriza a contracultura da década de 60 que instituía a mobilização e contestação social, inovação dos estilos, consciência antissocial e anti-conservadora conhecida como cultura underground e alternativa. A mobilização envolvia a transformação da sociedade, dos valores considerados retrógrados que a regia, buscando principalmente a liberdade de expressão. Todos esses fatores essenciais culminaram em um grande festival de música que atraía mais e mais gente à medida que a notícia do evento se espalhava.
 
SWU - A Sustentabilidade e o sonho brasileiro

      Na contemporaneidade os valores instituídos são outros como cita Canevacci sobre a pluralidade e flexibilidade relacionadas ao multivíduo. Já se tem liberdade o suficiente, o plural de ser já está firmado, mas afinal o que querem os jovens? A agência Box 1824 responsável pela pesquisa e posterior “Projeto O Sonho Brasileiro” identificou as aspirações dos jovens para o futuro através dos seus valores, visão e almejo de desempenho vindouro. O ideal de liberdade e mudança permanecem, permeados pelas pequenas ações que cada um é responsável, além da satisfação e realização pessoal como objetivos de vida. Esses aspectos são pertinentes à geração Z e suas perspectivas sobre o projeto de vida. Nilson Carlos trabalha e mora em São José dos Campos - SP e afirma "Almejo um lugar melhor para meus filhos viverem, e isso depende basicamente das pessoas adultas que estão no planeta hoje".



           Estes perfis de pequenas ações que modificam o todo e o mundo, consequentemente também estão presentes no SWU (Starts With You – Começa com você) que no ano passado teve sua primeira edição de 9 a 11 de Outubro, na Fazenda Maeda em Itu, São Paulo. Na essência do festival além da música, estão presentes as artes, sustentabilidade e conscientização sobre o uso de recursos, reutilização e reciclagem no planeta. A espera para o evento que teve cogitação de ser um Woodstock brasileiro é muita " a expectativa é grande já que são diversas bandas que gosto. Nós organizamos um ônibos para sair de São José dos Campos - SP e este ônibus estava preparado para que pudessemos organizar nosso lixo da melhor maneira" explica Nilson.
Festival SWU em 2010.
Foto:sempretops.com
Nilson Carlos vai ao SWU 2011.
Foto: Arquivo pessoal














Este ano o festival ocorre de 12 a 14 de novembro, em Paulínia, São Paulo, sendo que o público estimado deve superar o da edição passada, de 165,4 mil pessoas. Nilson vai participar e enfatiza "A razão principal, sem dúvida, é a grande variedade de shows de rock e a outra, mesmo que indiretamente, é participar de um evento com um mote muito importante hoje em dia que é a sustentabilidade". Essa ideia vem de encontro à percepção "Acho de extrema importância, porque realmente começa com cada um de nós fazer com que o mundo se torne sustentável", diz Nilson.  Além das ideias imbuídas ocorrem também ações sistemáticas sustentáveis, como destinação e reciclagem do lixo gerado, engajamento na campanha e permanência das atitudes, geração de energia eólica e solar destinada ao carregamento de celulares e baterias durante o evento, plantio de árvores para reduzir o impacto do festival, realização do II Fórum Global de Sustentabilidade, entre outras, e geração de relatório com o viés sustentável do evento. Nilson não vai participar do Fórum "porque o horário de saida para o festival mais o tempo de estrada não nos pemitirá chegar em tempo hábil" justifica. Considera ainda, "Não sei se dão/darão grandes resultados, mas algum resultado dará com certeza, mas vejo na realidade que 95% dos jovens indo ao festival vão mesmo é por causa da música", complementa Nilson.
Mesmo uma grande maioria se importando apenas com a música, com o apelo atrelado às atrações musicais e ações do evento ocorre a promoção da ideia, motivação e engajamento de todas as tribos para o prestígio, que pode instituir ações e valores às gerações futuras, realizadas hoje por aqueles de espírito jovem e com o ideal de mudança contemporâneo.



*Dulci Sachetti é acadêmica do Curso de Jornalismo, V nível.

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