Grandes
Festivais simbolizam um momento vivido pela sociedade e são impulsionados pela
inquietude jovem de mudança
Dulci Sachetti*
Milhares
de pessoas se movimentam, se organizam e migram para cidades, estados, até
outros países temporariamente, para acompanhar de perto não só shows e
artistas, mas também uma variedade de cultura e de gente, que muitas vezes
marca época. Os grandes festivais tem apelo jovem e simbolizam a realidade que
estão inseridos, são flexíveis assim como o perfil das tribos e vão de encontro
das crenças e atitudes típicas da geração.
Grandes
festivais e eventos envolvendo a música e outras ideologias acontecem comumente
em torno do globo e há grande procura pelos públicos, já que eventos maiores
têm mais variedades de atrações, custo reduzido ou zero e facilidades de acesso,
seja de deslocamento ou de informações referentes. Quem participa, geralmente
tem de ter disponibilidade para viagem, disposição para ficar em filas imensas
e acompanhar a maratona diária de horas em pé, dificuldades para alimentar-se
adequadamente e acomodar-se no improviso. Não é por acaso a relação com o
público mais jovem, portanto, desde as condições em que acontecem os eventos,
as atrações e a disponibilidade já segmentam, ou pela idade ou pelo espírito; a
essência símbolo do evento igualmente motiva as pessoas a comparecerem. Mas
este conceito de “jovem” também passa pela transformação da realidade
contemporânea. O antropólogo italiano Massimo Canevacci garante que a juventude
está estendida e que é muito difícil determinar faixa etária ou eloquência pela
idade de fato. Assim, o gosto, espírito de liberdade e vontade de mudança está
muito mais relacionado ao estado de espírito do que pela quantidade de
aniversários.
A
variedade musical dos grandes festivais atrai várias tribos com gostos
variados, mas com especificidades em comum. Estas especificidades traduzem o
simbolismo das gerações de jovens, suas crenças e atitudes de inconformismo
diante de uma realidade que consideram impraticável. A ideia das Tribos Urbanas
surgiu em 1980 com o sociólogo francês Michel Maffesoli, que aponta o fato das
escolhas, modo de se vestir e música que ouvem como a caracterização das
tribos, fundamentadas em uma ideologia. Embora toda a pluralidade e
flexibilidade dos jovens diante das tribos – ora se faz parte de uma, ora se
está em outra, como afirma Canevacci – existem características em comum da
geração, como por exemplo, ir nos finais de semana à praças e parques, em lojas
de conveniência para beber ou sair sexta à noite e participar de eventos
musicas que efetivem a ideologia acreditada pelas tribos, parcialmente definida
por um estilo musical. Esta mesma variedade de estilos musicais está presente nos festivais, que reunem público e estilos plurais, validando os eventos.
Paralelo
à música geralmente está a essência e apelo dos grandes festivais. Eventos exclusivos
de rock para comemorar o Dia Mundial do Rock, shows atrelados à Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, o
Brazilian Day realizado no exterior,
todos aliando a música a uma identidade constituída e com reflexões que vão
desde a comemoração de uma data histórica, preconceito e questões sociais, até
eventos com fundamenteção religiosa e cultural.
WOODSTOCK
- A era Hippie e a contracultura
Festival Woodstock em 1969. Foto: blogamos.com |
SWU
- A Sustentabilidade e o sonho brasileiro
Na contemporaneidade os
valores instituídos são outros como cita Canevacci sobre a pluralidade e
flexibilidade relacionadas ao multivíduo. Já se tem liberdade o suficiente, o
plural de ser já está firmado, mas afinal o que querem os jovens? A agência Box
1824 responsável pela pesquisa e posterior “Projeto O Sonho Brasileiro”
identificou as aspirações dos jovens para o futuro através dos seus valores, visão
e almejo de desempenho vindouro. O ideal de liberdade e mudança permanecem,
permeados pelas pequenas ações que cada um é responsável, além da satisfação e realização
pessoal como objetivos de vida. Esses aspectos são pertinentes à geração Z e suas
perspectivas sobre o projeto de vida. Nilson Carlos trabalha e mora em São José dos Campos - SP e afirma "Almejo um lugar melhor para meus filhos viverem, e isso depende basicamente das pessoas adultas que estão no planeta hoje".
Estes perfis de pequenas ações que modificam o todo e o mundo, consequentemente também estão presentes no SWU (Starts With You – Começa com você) que no ano passado teve sua primeira edição de 9 a 11 de Outubro, na Fazenda Maeda em Itu, São Paulo. Na essência do festival além da música, estão presentes as artes, sustentabilidade e conscientização sobre o uso de recursos, reutilização e reciclagem no planeta. A espera para o evento que teve cogitação de ser um Woodstock brasileiro é muita " a expectativa é grande já que são diversas bandas que gosto. Nós organizamos um ônibos para sair de São José dos Campos - SP e este ônibus estava preparado para que pudessemos organizar nosso lixo da melhor maneira" explica Nilson.
Festival SWU em 2010. Foto:sempretops.com |
Nilson Carlos vai ao SWU 2011. Foto: Arquivo pessoal |
Mesmo uma grande maioria se importando apenas com a música, com o apelo atrelado às
atrações musicais e ações do evento ocorre a promoção da ideia, motivação e engajamento de todas
as tribos para o prestígio, que pode instituir ações e valores às gerações
futuras, realizadas hoje por aqueles de espírito jovem e com o ideal de mudança
contemporâneo.
*Dulci Sachetti é acadêmica do Curso de Jornalismo, V nível.
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