quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Uso excessivo da internet causa disturbios psicológicos

                                                                                                                    Mateus Miotto *

Foto: Franciele Demarchi

Criada para fins militares, a Internet é hoje o maior meio de comunicação existente no mundo. Através dela a informação é transmitida para todo o globo, em tempo real. No Brasil esta forma de conexão entre o mundo chegou no fim dos anos 90, tendo sua velocidade considerada baixíssima e a preços bem salgados. Com a popularização do computador e a queda dos preços, o serviço começou a ser melhorado e a ter uma velocidade muito maior. A chamada Banda Larga chegou com tudo em 2003, levando uma nova experiência aos internautas. Com velocidades elevadas ficou fácil fazer o download de vídeos, músicas e de se comunicar com som e imagem em tempo real. De lá para cá o processo só evoluiu. Hoje arquivos cada vez mais pesados integram os sites, trazendo uma experiência única e viciante aos usuários. 

No campo profissional a internet é uma ferramenta indispensável, obrigando vários trabalhadores a ficarem em frente ao computador por horas a fio. Isso não se resume ao ambiente de trabalho, já que ao chegar em casa esse mesmo trabalhador liga o seu computador domestico e continua conectado. São várias horas ao dia em que aquela pessoa viaja através do mundo virtual, interagindo, pensando e processando informações. Mas será que tanta exposição á rede não acaba gerando alguma disfunção na mente das pessoas? Pesquisas recentes apontam que a internet é responsável pelo surgimento de doenças psicologias e físicas que antes não existiam na vida das pessoas. O abuso da rede causa dois problemas psicológicos de uma maneira principal: Estresse e Ansiedade. 

O Estresse é considerado hoje a doença do século, que por exposição prolongada a atividades que exigem atenção, acabam desencadeando outras doenças secundárias, como o isolamento social ou até mesmo a agressividade. A reportagem do blog ComArte conversou com a psicóloga Shaiane Ludke, formada pela URI de Frederico Westphalen e há 1 ano atende um público especialmente jovem. Ela explica que problemas causados pelo uso da internet ainda são uma novidade. "É uma anomalia psicológica que surgiu nos últimos 10 anos, tanto que as universidades ainda nem abordam esse problema no curso de psicologia”.

Confira a entrevista completa:

Psicóloga Shaiane Ludke (Foto/arquivo pessoal)
ComArte: Qual é o diagnóstico principal que você encontra nos seus pacientes atualmente?

Shaiane Ludke: Na pratica clínica, o diagnóstico depende de vários fatores, como por exemplo, história de vida precoce do paciente e também a cultura em que ele esta inserido, por isso o diagnóstico varia muito de paciente para paciente, mas hoje posso resumir que o mais comum é a depressão e os transtornos oriundos do stress.

ComArte: Na psicologia, como é tratado o isolamento das pessoas da sua vida social? é realmente uma doença psíquica?

Shaiane: O isolamento em si, não define um transtorno, mas considerando este como critério, a psicologia pode classificar como Transtorno de Personalidade Antissocial, ou como Fobia Social, que são doenças psíquicas. A forma de tratamento varia de acordo com a abordagem de cada profissional, os autores sugerem que para Fobia Social trabalhe-se com a abordagem de tratamento Cognitivo Comportamental, exposição ao vivo, mas pode-se optar por um tratamento psicanalítico de longa duração.


ComArte: O medo de conviver na vida social é um mal que tem cura?

Shaiane: Em geral, os pacientes possuem uma boa melhora, depois um período de tratamento que irá depender de cada caso. Essa "cura", ou seja regressão total do sintoma, também irá depender do grau de motivação e adesão do paciente ao tratamento e de aspectos do funcionamento dinâmico do mesmo.

ComArte: Quais os problemas que o isolamento social podem trazer do ponto de vista da psicologia?

Shaiane: Depende muito do caso, alguns pacientes tem maior prejuízo outros menos, não há como se definir e se ter certeza de o quão prejudicial o isolamento possa ser na vida do sujeito, pois cada um vivencia essa situação de forma diferente. A psicologia de forma geral acredita que o isolamento é sintoma de algo maior na vida do sujeito, situações traumáticas, mal resolvidas na infância, ou mesmo situações de vida atuais que possam estar despertando esse sentimento de isolar-se das pessoas, e nesse sentido os problemas podem surgir pelo caminho, como por exemplo na entrada no mercado de trabalho, ou mesmo a perda do emprego, e nas relações de forma geral, tanto familiares, interpessoais que ficam cada vez mais prejudicadas, pela atitude do paciente frente a estes. Contudo, atualmente já estamos tendo que nos adaptar á era da internet e passar a estudar esta nova causa de isolamento.

ComArte: Existe alguma recomendação as pessoas que detectarem um comportamento assim em seus familiares ou amigos?

Shaiane: Sim, a pessoa que se isola ou que está viciada na internet precisa de ajuda, caso contrario o vício, como qualquer outro, vai consumir sua vida aos poucos. A Internet em excesso pode ter um efeito lento na vida do usuário, mas possui força suficiente para causar grandes transtornos. Recomenda-se aos pais buscarem ajuda psicológica para seus filhos assim que for notada a alteração no comportamento. Muitas vezes o sujeito busca na internet o refugio para outros problemas pessoais e isso deve ser diagnosticado.

Nossa equipe de reportagem conversou também com um usuário do modo “Hard” (intenso) e que passa horas por dia conectado á rede. Jonathan Holdorf, 19 anos, trabalha com tecnologia da informação e afirmou usar a rede principalmente por conta do trabalho.

Jonathan Holdorf ( Foto/arquivo pessoal)
 “Eu uso a internet intensamente pela tarde. Costumo sempre usar, até porque tenho aparelhos móveis que dão a possibilidade de estar sempre conectados. Creio que eu seja uma pessoa que não tem como ficar desconectada, até porque minhas intenções profissionais são todas envolvidas nisso”, explicou ele.

Jonatahn costuma usar aplicativos especiais para receber em seu celular novas informações assim que elas forem postas na rede, 24 horas. "Costumo usar os agregadores de feed. Assinando através do Google Reader é possível receber todas as informações de sites de notícias e blogs. Gosto de usar a internet de uma forma completa, ou seja, tanto para lazer - redes sociais - como para trabalho ou me manter atualizado sobre o mundo”, completa.

Para o internauta ficar sem o acesso não é um problema, pode ser contornado. Porém ele admite buscar alternativas para ter acesso á informação em tempo real:

“Não vejo problema em ficar sem, é totalmente tranquilo me ausentar por dias. Mas sempre procuro achar um meio de me conectar, sinto que não sou mais uma pessoa que lê jornal. Um exemplo: durante uma semana fiquei sem luz na minha casa e não tinha como conectar, para saber das novidades do mundo eu tinha que esperar o jornal do outro dia ou assistir televisão, o que não faço muito. A informação é tão mais rápida com a internet que até nos acomodamos quando ficamos sem. Mas não vou chamar minha necessidade de 'vital' ", afirma Jonathan.

O jovem vê como positiva as alterações sociais que a rede vem causando. Para ele, a rede é uma ótima ferramenta para o uso geral, se souber ser usada. 

Segundo Jonathan, apesar de não achar que a internet irá matar o convívio social,  ela fez com que isso diminua. "Há alguns anos as pessoas se reuniam para discutir assuntos, hoje tudo é possível pelo msn, skype, facebook. Até mesmo trabalhos de faculdade, que antes eram em reuniões na biblioteca, hoje o grupo discute no bate-papo", observa.

Nos dias atuais é inevitável o uso da rede, e as tarefas diárias exigem que a pessoa esteja conectada. A dica é procurar dar uma pausa no mundo digital, sair , manter um contato com o mundo exterior. O mais importante é não ter medo de pedir ajuda caso note que começou a estar dependente da internet. Converse com seus amigos, fale com seus filhos. Existe um antigo ditado que alerta: Tudo em excesso faz mal.


*Mateus Miotto é acadêmico do VI nível do curso de Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo da UPF.


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