terça-feira, 22 de novembro de 2011

O mundo dá voltas, a moda também

*Cris Jaqueline da Rosa

Quantas vezes você comprou aquela blusa maravilhosa, numa loja bem bacana, e acabou ouvindo da tua mãe, da tia ou até mesmo da avó, que elas tinham uma peça “igual”? Aí você pensa: "como assim, se acabei de comprá-la!" Pois é, elas não estão ficando loucas, e nem você. Aquele famoso ditado “o mundo dá voltas” também acontece no mundo fashion e a moda também dá as suas voltas. Prova disso é a moda Retrô.


A professora Vânia Regina Bergonsi, do curso de Design de Moda da UPF, conta que a moda retrô ou vintage, é aquela que já foi vista, que se tornou moda em décadas passadas. Ela relatou que o retrô é uma das categorias de criação de moda, embasada naquilo que já passou nas décadas, que tem características específicas de cada década. “Por exemplo, nos anos 20, temos as saias melindrosas, bem caídas. Nos anos 40, o salto grosso e uma roupa num período pós-guerra, onde parecia ser mais masculinizada, como se fosse um uniforme de guerra. Nos anos 50, temos o New look de Christian Dior, onde a roupa era bem marcada na cintura e o petit poá". 


A professora cita ainda que "nos anos 60 a cigarrete dominava, e na moda masculina havia a influência dos Beatles com as gravatinhas finas. Nos anos 70 o período hippie, com a calça boca-de-sino e túnicas. Nos anos 80, é o ano do exagero, com modelagem enorme, tudo muito exagerado, laços enormes, ombro marcados, excesso de bordados. A mulher era uma figura quase “T”, valorizando o ombro e afinando embaixo. Uma única peça tinha renda, bordado e laço", esclarece. Ela também confirmou que a moda dá voltas. “A moda é cíclica, tudo o que é um exagero num ano, quando massifica, ela se torna ao contrário daquilo que ela já foi. Como nos anos 80 houve o maximalismo, onde tudo era exagerado, nos 90 houve o minimalismo, com poucos detalhes", ressalta.





Profª Vânia Bergonsi - Design de Moda (Foto: Cris Jaqueline )

A jornalista e consagrada consultora de moda, Patrícia Pontalti, que já foi editora de moda do jornal Zero Hora e colaboradora de várias revistas, como Elle, Cabelos & Cia e L´Officiel, e possui clientes como Piccadelly, Ramarim, Dakota, RabuschRenner, Kildare, entre tantos, tem um site muito bacana.


De acordo com a jornalista, "o que a gente fala é de um espírito retrô que resgata a feminilidade e sofre influências de várias décadas, principalmente dos anos 40, dos anos 50 e dos anos 60. Da primeira, os cortes ajustados, os casacos-vestidos ao estilo trenchcoat, os tecidos encorpados e clássicos da alfaiataria masculina, os tons mais sóbrios, o visual esguio, bem típico da época da Segunda Guerra. Já o olhar para nos anos 50 tem um clima bem feminino, com foco, principalmente, nas criações de Balenciaga, com mangas amplas e estruturadas e uma modelagem riquíssima, que remete ao efeito casulo. Já a releitura dos 60 tem ênfase no futurismo do período, com cortes retos, quase geométricos. As referências são Courrèges e Rabanne”, escreveu a jornalista.

E a moda volta sempre com nomes diferentes. Por exemplo, a calça boca-de-sino, famosa nos anos 70, é uma das peças que a mulherada deverá usar neste verão, só que ela volta com o nome de Boot Cut. “A calça saint-tropez, chamada assim nos anos 60, hoje é denominada de cós baixo, que já se chamou de calça cocota. E hoje a gente acha ridículo, feio, mas são palavras de época. "Moda é uma coisa que não é agregada só ao vestuário, existe moda em palavras, em alimentos, em estilo de carros, em paredes e decorações, em arquitetura, etc.”, revela a professora Vânia.





Salto grosso estilo anos 40. (Foto: Cris Jaqueline)

A jornalista Beatriz Scariot sempre tem alguma peça diferente no guarda-roupa. Segundo ela, "moda é a arte que você veste. Se você curte aquilo que está vestindo, então você tem estilo. Não precisa seguir as tendências para estar na moda. A moda é você quem faz. Por isso sempre desde muito pequena, gostei de tudo o que é mais vintage: de discos, filmes, livros, móveis, e principalmente das roupas. No meu cotidiano me visto de forma confortável e usando aquilo que gosto”, declarou Bia.


A consultora Patrícia passa uma dica para quem quer se vestir com esse estilo. “O bacana é brincar com as referências, sobrepondo épocas, assinando um visual bem pessoal, bem particular. É interessante mesclar essas influências entre si”.


Camila Teixeira com peça Xadrez 
(Fotos: Arquivo/Camila Teixeira)
Camila Teixeira, que estuda Publicidade e Propaganda na UPF tem personalidade na hora de se vestir: seu estilo de vestir é diversificado. “Gosto de customizar peças antigas, e acho que a graça em se vestir está nisso, ter um misto de ousadia e tornar suas roupas com requinte de personalidade, o que acaba realçando sempre e lembrando o formato retrô”, contou a estudante.


Camila com vestido estampado.

Peças customizadas.


A professora Vânia Bergonsi disse que tem muita gente que faz o estilo brechó, que gosta de roupa estilo retrô, mas alerta que por mais que a moda volte, é preciso ter cuidado ao buscar peças antigas no armário, pois as costuras, modelagens e tipos de tecidos mudam. “Tem gente que abarrota os guarda-roupas, guardando peças, pois a moda é cíclica. Mas ela volta diferente e a pessoa terá que fazer uma adequação. Por exemplo, nos anos 80 as jaquetas perfect, de motoqueiros, eram com as cavas muito grandes e agora voltaram ajustadinhas. É difícil tu pegar uma roupa e sair como ela era. Só se tu têm um estilo de moda brechó, retrô. Senão, a pessoa vai se sentir mal, deslocada”, ressalta.


A jornalista Patrícia Pontalti concorda que é preciso ter cuidado na hora de buscar uma peça de época. “A interpretação do retrô não é a peça da época. Tudo muda, sim. Tudo é mais suave, mais tecnológico, menos caricato. Ao usar uma peça de época, é preciso cuidar para não ficar com cara de figurino. A melhor dica é misturá-la a outras atuais, criando uma composição diferenciada e com a cara do hoje.”, enfatiza a consultora.



Vestido Marcela da griffe
"Un vestido y un amor"


Vestido Xadrez da griffe
"Un vestido y un amor"




Vestido Silvia Preto e Branco da griffe
"Un vestido y un amor"

Sobre essa história de comprar peças no brechó, Beatriz Scariot concorda: "acho bacana garimpar os modelitos, seja nos brechós ou mesmo em lojas com preços super populares, sempre é possível encontrar algo que te agrade sem pesar no bolso, basta criatividade”. 

Já Camila Teixeira revela que costuma garimpar nos brechós guarda-roupas da família. “Costumo sim, e acho que nem é preciso atravessar a rua para procurar um brechó, temos brechós dentro dos guarda-roupas de nossas mães, avós, tias, e acabamos nem ligando, pois, como sabemos, as gerações sempre tendem, e voltam, e quando voltam é sempre com um apetrecho mesclando com o contemporâneo, para assim não se repetir, mas manter a alma e elegância que tal época proporcionou”. A estudante conta que não tem medo de errar na hora da escolha: "nosso olho nunca mente e nada que uma ajustadinha, não resolva, né? Acho que o nosso visual é o que temos de mais fiel, cabe estritamente a nossa aceitação na hora da escolher. Acima de tudo você tem que se sentir, muito mais do que acha que a roupa vai fazer você sentir. Em especial, repassar o seu sentir", desabafa.


Mas, segundo a professora Vânia, não vale a pena guardar as roupas. “Os tecidos voltam diferentes, a tecnologia avança em tecidos, recortes, detalhes de costuras, em aviamentos. Dificilmente ela vai ser exatamente aquele perfil que ela foi, pois tem recortes diferenciados", alerta Vânia.

A jornalista Beatriz Scariot indica um blog onde a atriz Débora Fabella e a estilista Mariana Aretz encontraram um jeito de vender modelos de vestidos que elas não conseguiam encontrar por aí. 

Deem uma olhada no blog: http://unvestido.blogspot.com/. Também fica a indicação do site das consultoras de moda e jornalistas Patrícia Parenza e Patríca Pontalti: http://www.aspatricias.com.br/


Vestido Waleska da griffe "Un vestido y un amor"




Preferências

Beatriz é influenciada pela moda dos anos 60 e 70. “Gosto de xadrez, poa, florais. Já tive um estilo mais roots, mas hoje acho que não tem muito como definir. Me agradam muito vestidos rodados, lenços, boinas, cardigãs, meias, sapatilhas, bolsas carteiro, principalmente se tudo tiver um ar mais retrô", declara. 

Já a Camila Teixeira, estudante de publicidade e propaganda, me disse o que mais gosta de vestir: “amo de paixão vestidos, tecidos leves e com estampas de poá, colorido, xadrez, quadriculado, adoro sapatilhas também. O que tiver de detalhes, seja com botões, laços e fitas eu me apaixono na hora! Sou fanática por bolsas grandes com cores vibrantes. Tudo o que visto eu gosto que seja chamativo, transmita um pouco de meus gostos, e até mesmo valores, pois uma roupa fala muito, comunica muito sobre você, as pessoas descobrem o seu interior muitas vezes só olhando uma peça que você se veste, claro que não são todos os casos, mas quem recorre para um estilo, é 99% de certeza”, revela. 

Patrícia diz que não tem idade indicada para usar esse estilo e destaca quem pode aderir à ideia. “Como são várias correntes, é preciso encontrar a que mais se identifica com o estilo pessoal. Não existe uma regra para quem usa ou deixa de usar”, relata. 

Mas, algumas mulheres devem ficar atentas ao físico: “As mais gordinhas devem ter cuidado com volumes localizados”, ressalta. Também não é difícil ver a jornalista Beatriz Scariot sair pelas ruas com alguma na estampa Petit Poá. 

E a professora do curso de Design de Moda, Vânia Bergonsi disse que essa estampa, que era muito forte no final dos anos 50 e início dos anos 60, está voltando neste ano e será forte no ano que vem. “Toda a tendência de moda inicia num ano, no ano seguinte insistem até massificar. A moda tem um ciclo de 3 a 5 anos.”. E lembrando da estampa das “bolinhas”, observei que além das roupas, a moda retrô está presente em móveis e objetos de decoração. 

(Foto: Cris Jaqueline)
Em Gramado, no Restaurante oriental San Tao, às margens do Lago Negro, o cliente encontra na louça da casa, peças da artista plástica Dudi Ribeiro. Entre as preciosidades, que também estão à venda, uma coberta de mesa toda pintada em petit poá. E as bolinhas estão pipocando por aí, em caixas organizadoras, guarda-chuvas, etc.




Peça de Dudi Ribeiro - San Tao (Foto: Cris Jaqueline)
(Foto: Cris Jaqueline)

Outra cerâmica de Dudi Ribeiro - San Tao (Foto: Cris Jaqueline)

*Cris Jaqueline é acadêmica do VII nível do curso de jornalismo da UPF.

Nenhum comentário: