sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Todos podem ter

Bruno Quevedo*


Como poderia Homero - ainda no século VIII a. C. - pensar que sua pioneira descrição em Ilíada , se tornaria o “mal do século”? Foi nessa época que o autor escreveu sobe o personagem Bellerofonte - o melancólico - vítima do ódio dos deuses e castigado com sofrimento e solidão, palavras íntimas quando se fala em depressão - uma das doenças mais comuns da pós-modernidade.
(Foto: Edson Ribeiro dos Santos/Flickr)
“Em algum momento da vida nós temos, e quase todas as pessoas têm. Uns lidam melhor, outros não tão bem”. As palavras da professora e psicóloga Goreti Betencourt resumem a seriedade da doença que ataca mais de 100 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Doença baseada no humor instável, se manifesta quando há alteração na comunicação entre as células cerebrais - neurônios - possibilitada por substâncias chamadas neurotransmissores, e, no caso da depressão, serotonina e noradrenalina - ligadas diretamente ao sistema nervoso e humor, conforme a psicóloga. “Nós vivemos em uma época com nível de exigência bastante acentuado, onde as coisas acontecem e, muitas vezes, predispõem o sujeito a entrar em depressão”, comenta. Esse seria o segundo fator principal desencadeador de todo o processo depressivo: acontecimentos levam a grande entristecimento - morte na família, crise e separação em relacionamentos amorosos, menopausa, parto, etc. -, assim como a própria forma pessimista de encarar a vida. 
(Foto: Renan Trindade/Flickr)
Foi assim que Ieda Dalmoro, 46 anos – e há cinco convivendo com a doença - ficou em depressão. A vida estava normal quando, de repente, por diversos motivos, a empresa da família faliu. “Perdemos tudo e acho que foi por causa disso que comecei a ficar preocupada”, conta Ieda, confidenciando que via “coisas”, gritava, e não saía de casa por medo do que as pessoas poderiam falar. “Iriam ficar olhando e comentando: aquela ali ficou internada, é maluca”, desabafa.


Conforme o psicanalista Francisco dos Santos, esse quadro “é mais que simples desapontamento, é um estado mais grave de tristeza, mais intenso e duradouro”, vai “sugando” a vida da pessoa, “roubando” a vontade de trabalhar, de se relacionar, amar, e viver.


Dúvidas sobre a doença







O tratamento

O uso de antidepressivos, psicoterapia ou a associação dos dois métodos é o tradicional no tratamento da depressão, que buscam restabelecer o equilíbrio da comunicação dos neurônios. Entretanto, é fundamental o apoio e a participação de familiares e amigos.

Francisco ressalta que o tratamento é excessivo em alguns casos, como se a “tristeza não fizesse parte da vida”, e lembra que somente os “extremos” necessitariam de medicação.

“Algumas pessoas lutam a vida inteira contra a doença e em alguns casos não tem cura, mas depende da pessoa”, cita Goreti, cética quanto à cura.

Atualmente existem tratamentos mais modernos, como a estimulação Magnética Transcraniana repetitiva (EMTr). Técnica utilizada em diversos países, consiste na aplicação de ondas eletromagnéticas no cérebro para o tratamento não somente da depressão, mas de diversas outras doenças psiquiátricas.

Confira uma reportagem sobre essa nova técnica:




*Bruno Quevedo é aluno do VII nível de Jornalismo da UPF

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