Amanda Nunes, Fernanda Rüntzel e Francine Oliveira, acadêmicas de Jornalismo, VII nível
Aquela era uma seleção considerada “imbatível” e o clima entre os brasileiros era de euforia. Com nomes como Pelé, Jairzinho, Tostão e Rivelino a promessa era de que o tricampeonato estava garantido. Mas por trás de tudo isso muita coisa acontecia no país naquele ano de 1970.
Com o Ato Institucional N°5 (AI-5) – instituído no final de 1968 – o Congresso estava fechado, os militares usavam o poder para reprimir, perseguir e exilar, fazendo com que o povo realizasse reuniões escondidas e organizasse partidos de esquerda, que operavam na clandestinidade. Tudo deveria passar pela aprovação do governo, textos jornalísticos, livros, músicas e qualquer outra obra artística. Era a censura que estava operando no país e obrigando os profissionais a “maquiar” suas produções para que não fossem impedidos de publicá-las.
Então surgiram manifestações, passeatas e protestos organizados, geralmente, por trabalhadores e estudantes que não aceitavam o regime de governo e tomavam as ruas para dizer “não” aos atos cometidos pelos militares, que sequestravam, torturavam e matavam aqueles que eram considerados subversivos e iam contra a “ordem e a segurança da nação”. E um time de craques com a promessa de ganhar o campeonato mundial foi “a galinha dos ovos de ouro” para que o governo desviasse a atenção do povo.
“Todos juntos vamos. Pra frente Brasil! Brasil ! Salve a Seleção!!!”. Essa era a canção que embalava o sonho dos brasileiros e pregava a união de todos para ajudar o país a seguir em frente.
O historiador Gerson Fraga Doutor em História e especialista em Nacionalismo, Imprensa e Futebol, afirma que mais do que desviar a atenção, o governo utilizou o evento (Copa do Mundo) para fazer uma propaganda e se mostrar como um regime vencedor, que pode alcançar grandes feitos e obter grandes conquistas. “É uma oportunidade para mostrar que tudo vai bem e que o regime está cumprindo com o seu papel”, complementa.
Fraga também coloca que uma prova da utilização da seleção (ou do futebol) pelo governo para se aproximar do povo é que, no ano seguinte (1971), aconteceu a primeira edição do Campeonato Brasileiro, “uma competição que pretendia reunir representantes de todo o país”. Nesse sentido, ele afirma que “a idéia de unidade nacional em torno do esporte - especificamente do futebol - fica clara neste momento”.
Mas, para o historiador, a vitória brasileira na Copa de 1970 não influenciou o pensamento da população quanto ao governo, pois “se assim fosse, o aparato repressivo não necessitaria continuar com sua sanha de sangue e vidas” e que acreditar nesse fato seria como “atribuir ao brasileiro uma passividade que historicamente ele não possui”.
Já para a professora Gizele Zanotto, Doutora em História Cultural e especialista em Cinema, Cultura e República, a propaganda feita pelo governo militar utilizando a seleção (e o futebol) foi sim importante politicamente, “daí tanto investimento do governo em articular vitória esportiva a pretensa vitória do desenvolvimentismo do país, que só foi possível por ações políticas efetivas”, salienta.
A professora destaca que o evento “que tanto mobiliza brasileiros de todos os grupos e categorias sociais há tempos” não serviu para apagar de vez a dureza da ditadura, mas “foi importante por trazer momentos de alegria e entusiasmo para os brasileiros em meio a um contexto cotidiano de repressão, censura e autoritarismo”.
Seleção brasileira na Copa do Mundo de 1970
Foto postada por Gustavo Felipe Teixeira em
http://futebolemfotos.blogspot.com/2010/01/brasil-campeao-copa-do-mundo-70.html
Foto postada por Gustavo Felipe Teixeira em
http://futebolemfotos.blogspot.com/2010/01/brasil-campeao-copa-do-mundo-70.html
Ouça a música tema da Copa de 1970
Foto1: Pelé e Jairzinho comemorando o gol na Copa do Mundo de 70
Foto postada por Marcos Abrucio em http://copawriters.wordpress.com/2010/02/
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